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Investidores continuam com "poder de fogo" para investir

O setor imobiliário foi um dos mais atingidos pela pandemia da Covid-19 e colocou em causa "alguns dos drivers que vinham suportando o mercado".

A afirmação é de André David Nunes, Chief Investment Officer da gestora de fundos imobiliários Norfin.

O responsável explica que o impacto da pandemia se refletiu sobretudo nos fundos de rendimento, devido às moratórias ou carências em ativos residenciais e de escritórios. Ainda assim, realça que os investidores continuam com bastante "poder de fogo" para investir e acredita que o mercado imobiliário tem condições de suporte de longo prazo.

Por sua vez, José Gavino, diretor da Corum, lembra que "os fundos de investimento imobiliário captaram montantes elevados de dinheiro e foram obrigados ou a investir a preços de mercado, e os preços estavam elevados, ou a deixar estes montantes em depósitos até encontrarem ativos para investir".

O responsável da gestora acredita que alguns fundos vão aproveitar oportunidades interessantes resultantes da necessidade de venda por parte de outros players, como fundos, familly offices, entre outros.

Já Pedro Coelho, vice-presidente da Square frisa que apesar de ainda ser demasiado cedo para tirar conclusões estruturais sobre o setor devido à pandemia, "tem-se assistido a uma gestão muito ativa dos inquilinos em que existe uma multiplicidade que ou por direito, ou por acordo, tem requerido a moratória do pagamento das rendas", realçando que até ao final do ano, dependendo dos dados da evolução sanitária, é de esperar a manutenção dessas situações.

Questionados sobre quais as tendências e alternativas de mercado mais rentáveis para os fundos face ao cenário da pandemia, André David Nunes afirma existir algum consenso no mercado residencial "pela sua natureza mais defensiva", e no mercado logístico, pelo impacto que "a pandemia teve no e-commerce e na necessidade de logística de proximidade".

Por outro lado, e apesar de ter sido uma das áreas mais afetadas, o turismo poderá vir a apresentar "oportunidades interessantes nos próximos tempos e contribuir para alguma restruturação que venha a ser necessária no setor".

Por seu turno, José Gavino olha para a logística e saúde ou segmentos do comércio de proximidade em que "a tendência de crescimento já é evidente", enquanto o imobiliário comercial é visto como um investimento de longo prazo e com resiliência para superar esta crise, tal como superou outras no passado, acreditando que "muitos setores ainda não demonstraram todo o seu potencial de crescimento e é nestes que vamos procurar oportunidades".

O diretor da Corum olha também para o teletrabalho, não como uma "mudança dramática, mas sim um aumento de flexibilidade", acreditando que esta tendência possa vir a aumentar, embora a médio prazo seja importante estar no local de trabalho, dado que várias empresas já provaram que "estar em exclusivo em casa prejudica gravemente a criatividade e a geração de ideias".

Por sua vez, Pedro Coelho, da Square, assume que os fundos de investimento imobiliário têm um desafio bastante grande pela frente com uma necessidade de uma gestão muito proativa tanto do passivo como do ativo.

"Assistiremos provavelmente a um aumento de oferta de bons imóveis no mercado, e aqueles que estiverem atentos, e tiverem liquidez conseguirão realizar aquisições em condições muito atrativas", salienta.

Numa perspetiva de mercado a longo prazo, André David Nunes acredita que continuará a existir uma busca por yield num cenário que cada vez mais "parece ser de manutenção de taxas de juro muito baixas durante muito tempo".

Um cenário que é também partilhado por Pedro Coelho. "Dentro da incerteza, a única certeza é que as taxas de juro vão continuar baixas e por mais tempo".

Opinião diferente tem José Gavino, da Corum, que acredita que o mais importante será perceber onde investem os fundos fechados, se em construção nova, em recuperação habitacional ou em imobiliário comercial, sendo que "tudo vai depender do tipo de imobiliário e, no caso dos imóveis comerciais, do setor de atividade do arrendatário", conclui.

 

Fonte: Jornal Económico (edição impressa)